terça-feira, 26 de novembro de 2013

VIOLÊNCIA DO AGRONEGÓCIO TIRA A VIDA DE INDÍGENA EM GUAÍRA


Nota do PSTU - Oeste do Paraná:
 
 
Punição já aos criminosos! Pelo fim da violência! Demarcação das terras!
 
Na noite de sábado (23/11) um grupo de indígenas da aldeia Tekohá Mirim em Guaíra foi vítima de um violento ataque com arma de fogo. Eles voltavam para casa, quando 3 pessoas em um carro passaram atirando. O indígena Bernardino Davalo Goularte levou 3 tiros e acabou falecendo; uma criança de 11 anos também levou tiros e está hospitalizada. Os outros menores conseguiram escapar dos disparos. O fato aconteceu em uma Avenida de Guaíra, próximo a um posto policial. Tudo indica que tenha sido uma tentativa de chacina, pois os integrantes do carro chegaram atirando e, à tarde, durante um jogo de bola, os indígenas haviam sido ameaçados por um homem que mostrava arma de fogo e dizia que “ao menos um índio iria morrer naquela noite”.
Esse é mais um fato lamentável que mostra a violência do agronegócio. O que ocorreu em Guaíra no último final de semana não foi algo isolado. Os indígenas estão sofrendo ameaças constantes nas aldeias e em outros lugares. No início do ano uma indígena foi atropelada propositalmente em frente à rodoviária de Guaíra por um carro a 120 Km por hora. Ela acabou falecendo. Também ocorrem outras tentativas de atropelamento, onde os motoristas “jogam” o carro em cima dos indígenas, além de tentativa de estupro. Essas informações acima foram relatadas pelos indígenas durante visita realizada no último domingo (24). Ou seja, temos em Guaíra uma situação semelhante ao que ocorre no Mato Grosso do Sul, onde são constantes os assassinatos de indígenas e onde os fazendeiros estão leiloando gado e outros bens para contratar “empresas de segurança”.
Desde o início do ano está sendo feita uma campanha difamatória contra os indígenas na região Oeste do Paraná. Isso tem aumentado o preconceito e está sendo utilizado para tentar legitimar a violência contra os indígenas. Essa difamação é articulada por órgãos da imprensa, políticos de vários partidos ligados ao agronegócio, cooperativas e algumas outras empresas. Podemos ver isso novamente agora, pela cobertura tendenciosa de alguns órgãos da imprensa sobre a violência ocorrida no último final de semana.
 
Políticos da Direita e Governo Federal estão aliados contra a luta indígena:
Os ataques aos direitos dos povos indígenas partem hoje de vários políticos, a maioria de partidos como PSD, DEM, PSDB, PMDB, PP e em alguns casos também do PT e PCdoB. Aqueles que atacam os indígenas são políticos que fazem parte ou defendem o agronegócio e na época da eleição recebem financiamento desse setor. Em nome do lucro, o agronegócio não pensa duas vezes para tirar a vida dos indígenas. Somente no período em que o PT está no governo Federal 560 indígenas foram assassinados (até maio de 2013). Mais até que no governo de FHC! O governo Federal também ataca os direitos indígenas e está sendo cúmplice da violência, pois aprovou o novo código Florestal que permite a devastação das florestas, dá todo tipo de incentivo financeiro ao setor do agronegócio e recentemente a Ministra Gleisi Hoffman suspendeu os processos de demarcação de terras indígenas.
Em alguns casos a violência parte de órgãos do próprio governo Federal, como aconteceu em Sidrolândia (MS), onde a Polícia Federal matou um índio da etnia Tereza em maio deste ano durante reintegração de posse na fazenda Buriti.
 
Pelo fim da impunidade e pela demarcação das terras indígenas!
O assassinato de Bernardino, a tentativa de assassinato de uma criança de 11 anos, o atropelamento seguido de morte de uma indígena, as ameaças e tantos outros casos de violência contra os indígenas não podem ficar impunes. É preciso punir imediatamente os criminosos! O governo Federal, o governo do Estado e todos os ocupantes de cargos políticos do Paraná precisam se posicionar exigindo a punição dos crimes ocorridos em Guaíra.
Não podemos permitir essa escalada da violência contra as populações indígenas. É preciso que seja retomado imediatamente o processo de demarcação das terras. A não demarcação das terras e a impunidade só irão encorajar ainda mais os criminosos. É preciso que todas as entidades e movimentos que apóiam os indígenas se posicionem exigindo a punição dos criminosos, a demarcação das terras indígenas e o fim de projetos do agronegócio como a PEC 215.
Infelizmente a luta dos oprimidos muitas vezes é marcada com sangue. Mas a luta continua e é sempre renovada a cada geração! Os povos Guarani de Guaíra e região, assim como os indígenas de todo país já demonstraram muitas vezes que seu espírito de luta não morre! Bernardino está presente!
 
-  Pelo fim da violência contra os indígenas!
-  Pela punição aos assassinos!
-  Demarcação imediata das terras indígenas!
- Abaixo a PEC 215!
- Respeito à cultura indígena!
 
Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado – PSTU/Oeste do Paraná.
26/11/2013

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Repúdio: Justiça do Paraná cancela feriado do Dia da Consciência Negra!


Pedido foi feito pela Associação Comercial do Paraná, que alegou prejuízos financeiros

 
O Dia da Consciência Negra foi criado para lembrara a data da morte de Zumbi dos Palmares, para lembrar os negros e negras que resistiram à escravidão, e discutir temas como negros na sociedade, inserção de negros no mercado de trabalho e discriminação. Porém o Tribunal de Justiça do Paraná cancelou o feriado na cidade de Curitiba, cidade com maior número de negros da Região Sul, chegando a mais de 344 mil negros desrespeitados para servirem à elite branca dos comerciários, que alegou prejuízo de R$ 160 milhões.
 
É uma vergonha que a população afrodescendente sofra mais esse caso de racismo institucional. É um absurdo que se negue o acontecimento desse feriado quando negras e negros vêm sendo explorados por séculos, quando uma mulher negra recebe um terço do salário de um homem branco pela mesma função, quando um jovem negro é chamado de burro por ter entrado na universidade pelo sistema de cotas, quando uma mãe negra não pode estudar por não ter com quem deixar seus filhos, ou quando a polícia criminaliza e mata um pai de família negro.
 
Os 464, anos desde o primeiro registro de tráfico de negros e negras ao Brasil, são pagos com ações afirmativas, como o feriado do dia 20 de novembro ou as cotas para entrada de negros e negras nas universidades. Essas ações visam eliminar desigualdades historicamente acumuladas. Porém não é assim que funciona na prática. Por exemplo, a entrada da negra e do negro na universidade: as vagas estão aí. Entretanto, depois de tantos anos de exploração, ficaram à margem a da sociedade, tendo os piores empregos, morando nas favelas e, consequentemente, estudando em escolas precarizadas. Isso na maioria dos casos impede o acesso de negros ao ensino superior, apesar das cotas.
 
Outro problema é a assistência estudantil. Como estar numa universidade se não existe creche para o filho da jovem negra? Como estar numa universidade se o jovem negro não tem dinheiro para comer ou para pagar o transporte público? Por isso, é de extrema importância debater os 10% do PIB para educação pública e uma política de ingresso de negros na universidade que contemple a assistência de verdade.
 
A conclusão que podemos tirar é que a Justiça do Paraná serve a elite curitibana que não precisa de mais um feriado, pois vive da exploração do trabalho de outros e, principalmente, de negros. Por isso, repudiamos o pedido da Associação Comercial do Paraná de suspensão do feriado e repudiamos a decisão da Justiça do Estado.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Por novas Eleições para Prefeito em Cascavel! Basta de Vale Tudo Eleitoral!

Nota do PSTU/Cascavel

Lamentavelmente os processos eleitorais estão cada vez mais tomados pela lógica do Vale Tudo. Vale Tudo pra se eleger, desde ataques morais aos adversários, mentiras, rebaixamento de programa, alianças com deus e o diabo, financiamento das candidaturas por empreiteiras, bancos e grandes empresários, etc.
Na tarde desta terça (12/11) o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) cassou o prefeito de Cascavel, Edgar Bueno (PDT), pelo placar de 6×0, sob a acusação de fraude eleitoral. O motivo: no segundo turno das eleições de 2012, Edgar Bueno (PDT) levou ao horário eleitoral “denúncia” afirmando que o adversário, Professor Lemos (PT), teria cometido fraude no alistamento eleitoral porque não morava no município.
O povo brasileiro, nas Lutas de Junho e Julho, demonstrou que quer outra forma de política, disse um basta ao Vale Tudo Eleitoral. Por isso defendemos que Edgar se mantenha cassado e que um novo processo eleitoral, aberto para todas as forças políticas, seja convocado o mais rápido possível!
Quem é Edgar Bueno (PDT)?
Edgar Bueno (PDT) é um rico empresário da cidade, um velho conhecido dos trabalhadores, representante direto de um setor da burguesia. Recebeu apoio de Beto Richa (PSDB) que, dentre outras coisas, defende as terceirizações, não cumpre com as promessas feitas aos servidores estaduais apesar das greves e mobilizações. Também compõe sua base de apoio setores do agronegócio, latifundiários e grandes empresários da região. Seu partido, o PDT, nacionalmente é base de apoio do Governo Dilma (PT).
Seu governo foi marcado por denúncias de corrupção relacionadas ao superfaturamento na compra de uniformes escolares e outras. Essas denúncias sequer foram investigadas, pois a maioria da câmara de vereadores que era composta por membros aliados do prefeito impediu. 
Os servidores amargam perdas salariais e um plano de carreira vergonhoso. A Lei do Piso  dos educadores municipais não está sendo cumprida integralmente, pois ainda não implementou o 1/3 da Hora Atividade.
Os serviços básicos são precários: redução do tempo de atendimento nas UBS e caos na saúde, muitas ruas sem asfalto, falta de saneamento básico, o transporte público é péssimo. Uma administração voltada para o fortalecimento do capital privado, enfim, bem longe da “cidade ideal” propagandeada no horário eleitoral do candidato.

 
José Lemos (PT) representa a diferença?
Por já terem feito as experiência com Edgar Bueno muitos trabalhadores acreditam que Lemos represente a diferença. Para nós Lemos não significa o “mal menor”. Nós do PSTU temos a obrigação de justificar nossa posição através de exemplos concretos.
Embora Lemos (PT) tenha um histórico de luta sindical no passado, hoje ele não pode ser visto isoladamente, tanto de seu partido e coligação eleitoral, quanto de seu programa. Lemos, no processo eleitoral de 2012, defendeu publicamente as ditas parcerias público-privadas para o transporte público que nada mais são do que privatizações disfarçadas. 

Lemos é aliado com o (PMDB) de Sarney que é base de apoio de Beto Richa (PSDB). O próprio PT está junto com o PSDB em várias cidades no Brasil. Recebeu no segundo turno o apoio do PP dos Barreiros e de Sperafico e disse durante a campanha eleitoral de 2012 em um canal de TV de Cascavel que vai lutar para ter o apoio do PSD de Lange. Quando questionado sobre as farpas entre ele e Lange (PSD) no primeiro turno Lemos (PT) foi taxativo: "temos mais convergências que divergências (...) queremos o apoio de Lange e de todos que o apoiaram". Lembrando que, dentre os apoiadores de Lange (PSD) estão Alfredo Kaefer (PSDB) e o ex-DEM Sciarra agora no PSD. Não dá pra governar para os trabalhadores junto com estes senhores!

O PT de hoje tem uma das mais caras campanhas eleitorais de sua história e defende um programa para os ricos e poderosos que financiam sua campanha. Está envolvido em escândalos de corrupção da mesma forma que o PSDB e o DEM. Recentemente Dilma privatizou o Campo de Libra colocando o exercito na rua para garantir este crime lesa pátria, e agora se une a Cabral e Paes no RJ e Alckmin em SP para reprimir os protestos utilizando a Força de Segurança Nacional. Foi o governo do PT que jogou bilhões de dinheiro público no financiamento da Copa e das Olimpíadas e restringiu a meia-entrada estudantil.
 
Por uma Cascavel para os Trabalhadores!
Por isso é necessário que o povo de Cascavel exija novas eleições limpas embora já saibamos que democráticas não são devido aos imensos investimentos financeiros de alguns partidos e a diferença do tempo de TV entre os candidatos.
 Além disso, defendemos que a esquerda socialista da cidade, da qual fazemos parte, precisa construir uma candidatura que seja independente financeira e politicamente da burguesia, que apresente um programa voltado para o interesse dos trabalhadores e a juventude, e que aponte para a estratégia socialista.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Polêmica: A quem serve o apartidarismo?

Reproduzimos abaixo artigo extraído do jornal Opinião Socialista publicado originalmente em novembro de 2005. Embora já tenha alguns anos de sua publicação ele carrega em si um debate atual na esquerda que esta nas ruas lutando pelo passe livre em Cascavel. Por este motivo republicamos ele em nosso blog.

Boa leitura a tod@s...



A QUEM SERVE O APARTIDARISMO?

O movimento estudantil vive uma situação peculiar. Em qualquer assembleia, reunião ou plenária pipocam intervenções “contra os partidos”. Alguns se declaram “apartidários”, outros “apolíticos”. Pertencer a um partido político está, no mínimo, fora de moda. “Querem aparelhar!”, gritam alguns. “Só fala se tirar o boton!”, ameaçam outros. “Abaixa essa bandeira!” ordenam terceiros.

Nas páginas deste jornal, totalmente partidário e político, gostaríamos de dialogar sobre este importante tema.

Independente sim, mas do quê?
O marxismo defende a completa independência de sindicatos e organizações estudantis, em primeiro lugar, com relação às instituições alheias aos movimentos sociais. Ou seja, mais do que tudo, defendemos a independência das entidades com relação ao Estado.

A adaptação da CUT e da UNE ao Estado burguês acelerou enormemente sua degeneração. Ambas são hoje braços do Estado no movimento de massas. Nesse sentido, nada mais emblemático do que a nomeação de Luis Marinho, presidente da CUT, para o Ministério do Trabalho. Por sua vez, a UNE recebeu de distintos órgão estatais, somente este ano, mais de um milhão de reais para “projetos”. Está claro: não são mais organizações independentes.

Em segundo lugar, defendemos a independência dos movimentos sociais com relação à patronal, às reitorias e às direções de escolas. Não aceitamos patrões nos sindicatos em que atuamos. Nos DCEs, não recebemos ajuda de nenhuma reitoria se isso significar a restrição ao nosso direito de crítica. Com essa atitude, visamos, mais uma vez, manter a independência da entidade.

Em terceiro lugar, defendemos sim a independência organizativa das entidades com relação aos partidos políticos e combatemos o seu aparelhamento por quem quer que seja. Autonomia significa que são as instâncias das entidades que devem tomar as decisões. Nessas instâncias, todos devem ter o direito de defender suas posições: revolucionários e reformistas, organizados ou não em partido.

Por outro lado, os marxistas reconhecem que a sociedade é divida em classes sociais que lutam entre si por meio de partidos e de outras organizações. Pretender que as entidades sejam “independentes” dessa luta significa, na prática, entregá-las nas mãos da direita e da burguesia, cujo dinheiro, televisão e intelectuais influenciam o conjunto da sociedade. Por isso, a completa “independência” do movimento com relação aos partidos políticos é uma utopia que só serve aos poderosos.

O movimento estudantil deve ser amplo e democrático, mas não pode ser “neutro” em uma sociedade marcada pela luta de classes. Deve escolher um lado. Quanto mais o movimento estudantil se aproxima dos partidos e organizações da classe trabalhadora, maior é a sua verdadeira independência: a independência com relação ao Estado, à burguesia e seus agentes.

O “apartidarismo” sempre serviu à direita
Em 1923, Trotsky escrevia: “Os comunistas não temem a palavra ‘partido’ porque seu partido não tem, nem terá, nada em comum com os outros partidos. Seu partido não é um dos partidos políticos do sistema burguês (...). Por isso, os comunistas não têm nenhuma razão – nem ideológica, nem organizativa – para se esconder atrás dos sindicatos”. E mais adiante: “Mas, ao mesmo tempo, o Partido Comunista reserva-se o direito de expressar suas opiniões sobre todos os problemas do movimento operário, inclusive sobre os sindicatos, de criticar as táticas dos sindicatos e de fazer-lhes propostas definidas que estes, por seu lado, são livres para aceitar ou rejeitar. O partido trata de ganhar a confiança da classe operária e, sobretudo, do setor organizado em sindicatos”.

Como se vê, a polêmica sobre a participação dos revolucionários nos movimentos sociais não é nova. Mas a luta “contra os partidos” nunca foi uma bandeira do próprio movimento, e sim da direita.

No Brasil, foi a ditadura militar quem mais utilizou o discurso “apartidário” para combater o movimento estudantil. Os militares acusavam os ativistas de “partidarizar os CAs” e exigiam medidas concretas dos reitores contra a atuação dos partidos nas universidades. Na tentativa de desarticular o movimento, a ditadura perseguia os estudantes filiados a partidos. Somente esse fato bastaria para se entender o enorme desserviço prestado ao movimento pelos defensores do “apartidarismo”, cujo discurso é igual àqueles pronunciados por generais e reitores durante os piores anos de nossa História.

Mas tudo muda. Os anos 80 foram anos de grandes liberdades democráticas. O país saía da ditadura, fora declarada anistia. Nesse período, a forma de organização do ativismo passou a ser não só os CAs e DCEs, mas também os partidos políticos de esquerda. Depois de um período de “militância independente”, a maioria dos ativistas ingressava em um partido político para defender de forma organizada suas posições. Naqueles anos, nada parecia mais óbvio. As organizações de esquerda disputavam os espaços nas universidades e escolas: vendiam seus jornais, organizavam debates, buscavam atrair novos membros. O movimento estudantil vivia uma enorme efervescência e a organização política era o caminho natural de todo lutador.

O muro de Berlim e o “apartidarismo”
Em 1989, cai o muro de Berlim. O imperialismo utilizou-se desse fato para desencadear uma enorme ofensiva ideológica em todo o mundo. Começou a se falar em “morte do socialismo”, “fim da luta de classes”, “fim da História”. Para uma parte importante da esquerda, era como se o muro de Berlim tivesse caído sobre suas cabeças. Desiludidas com o “socialismo real”, essas organizações absorveram os argumentos do imperialismo e aos poucos foram abandonando a luta social para adotar, cada vez mais, uma estratégia puramente eleitoral. Todos repetiam em coro: “o stalinismo é a continuação do leninismo”, “é preciso repensar a esquerda” etc.

Com isso, essa esquerda, antes revolucionária e marxista, se tornou de fato muito parecida com os partidos burgueses, já desgastados perante as massas pela corrupção e roubalheira em que sempre estiveram envolvidos.

As organizações de esquerda foram vítimas de um vendaval oportunista que correu o mundo a partir do início dos anos 90 e adaptaram-se ao recuo na consciência das massas, negando suas próprias bases e passando a defender bandeiras que levaram à sua crise. Assim, perdeu-se a tradição da atuação em partidos de esquerda no movimento estudantil.

O P-SOL: “apartidarismo” e eleitoralismo
Com a virada do milênio, inicia-se um processo de retomada das lutas no mundo inteiro: Equador, Palestina, Argentina, Bolívia, Venezuela, Iraque. As massas saem às ruas novamente e protagonizam processos revolucionários nesses e em outros países.

Infelizmente, a esquerda mundial não conseguiu relocalizar-se no novo momento e mesmo as novas organizações que surgem, já carregam os velhos vícios dos anos 90. Um exemplo disso é o P-SOL.

O P-SOL é um dos maiores defensores do “apartidarismo” no movimento estudantil. Juram de pés juntos que sua atuação nas entidades nada tem a ver com sua filiação partidária. Olhando superficialmente, até parece assim, mas não é. O P-SOL é um partido de tendências, em que cada corrente interna pode defender a sua política no movimento sem consultar os organismos do partido. Assim, os militantes do P-SOL diversas vezes atuam de forma distinta uns dos outros, passando uma falsa idéia de “atuação independente” no movimento. Nada mais falso.

O que unifica o P-SOL no movimento estudantil é sua estratégia de salvar a UNE e manter seu cargo na diretoria executiva da entidade, cargo esse, diga-se de passagem, conseguido pela concessão feita pelo PCdoB no último CONUNE. Por isso, o P-SOL é um dos maiores inimigos da ruptura com a UNE. Também por isso o P-SOL é forçado a combater o PSTU, que defende a ruptura com a UNE e a construção de uma nova alternativa de direção para o movimento estudantil: a CONLUTE. Assim, quando o P-SOL denuncia o “aparelhismo” e o “rupturismo” do PSTU, se aproxima do PCdoB, de cujas mãos recebeu o cargo na executiva da UNE, e se coloca a serviço de sua política, política essa, naturalmente, “apartidária”.

Mais do que isso: ao defender a “independência” do movimento com relação aos partidos, o P-SOL deixa sem resposta a seguinte pergunta: Se a tarefa de um partido de esquerda não é atuar de forma organizada nos movimentos sociais, então qual é? Acaso seria pedir votos nas eleições? Aí poderíamos ter uma atuação franca e aberta como partido político? Aí poderíamos declarar abertamente que somos “partidários”? Como se vê, por detrás do discurso “amplo e democrático” que tem o P-SOL, esconde-se uma concepção eleitoralista e reformista. Para o P-SOL, partido é para disputar eleições. Nada mais.

O anarquismo: autoritarismo e paralisia no movimento estudantil
O discurso “apartidário” tem ajudado os setores ligados ao anarquismo a se fortalecer em algumas entidades. Infelizmente esse novo anarquismo não tem relação com a honrada tradição anarquista do início do século XX. O novo anarquismo é burocrático e autoritário no trato com as entidades. Não raros são os casos de aliança desses setores com a direita “apartidária” ou mesmo com as reitorias para combater “os partidos”. Nas passeatas e atos, em vez do enfrentamento com a polícia, alguns setores anarquistas preferem o enfrentamento com os ativistas que carregam bandeiras de partidos. A “autogestão”, ou seja, a ausência de uma diretoria eleita, implementada em algumas entidades é um desastre: tem levado, na prática, à ditadura anarquista, à paralisia das entidades e à desmoralização completa. Cada ano de autogestão é um ano de caos e inoperância no movimento e prepara a retomada das entidades pela direita reacionária.

A verdadeira relação partido–movimento
A relação aparelhista que o PCdoB estabeleceu com a UNE e com a UBES traumatizou toda uma geração que hoje nega qualquer organização partidária. No entanto, essa deformação criada pelo stalinismo não deve nos desviar de uma concepção marxista de atuação nas entidades.

Se a atuação “independente” no movimento é uma bandeira tão ampla e democrática, por que quase não vemos entidades que não sejam, em maior ou menos grau, influenciadas por partidos? Por que os chamados “independentes” sempre acabam se alinhando com uma ou outra organização política para defender suas posições? Por que os CAs e grêmios, em cujo seio não há nenhuma disputa política, são, em geral, os mais despolitizados e mais atrelados às direções das escolas e faculdades?
Isso se dá porque a luta no movimento leva naturalmente ao enfileiramento por posições políticas. É por isso que existem “grupos de independentes”, “correntes de independentes” (chegaremos a ver “partidos de independentes”?). A organização política é natural, progressiva e inevitável.

A esse respeito, Trotsky escrevia em 1929: “O Partido Comunista (...) diz claramente à classe operária: eis meu programa, minhas táticas e minha política. É o que proponho aos sindicatos. O proletariado não deve acreditar às cegas em nada. Deve julgar cada partido e cada organização por seu trabalho. Os operários devem desconfiar duplamente dos aspirantes a dirigentes que atuam disfarçadamente, pretendendo lhes fazer acreditar que não necessitam de nenhuma direção”.

Assim, os militantes do PSTU continuarão erguendo suas bandeiras, defendendo de forma clara sua política e disputando a direção das entidades com o programa que julgamos correto. Nesse marco, sempre que possível, marcharemos juntos com organizações, partidos e ativistas independentes de esquerda.

A atuação no movimento para nós não é uma mera tática, como querem fazer parecer nossos adversários. É parte fundamental de nossa estratégia: a mobilização permanente das massas e a construção de uma ferramenta revolucionária. Mas nosso objetivo final não se resume à atuação no movimento estudantil e sindical, por maior que seja sua importância. Somos socialistas e revolucionários. Nosso fim é a libertação completa da humanidade do jugo do capitalismo, a construção do comunismo no mundo inteiro. Esse é nosso “interesse político-partidário” e somos orgulhosos dele.

domingo, 3 de novembro de 2013

PSTU divulga Carta Aberta ao PSOL e PCB

 Uma alternativa de classe e socialista nas eleições de 2014
O debate sobre as eleições do ano que vem já está nas ruas. É alimentado pela imensa máquina de propaganda do governo da presidenta Dilma Rousseff,  candidata à reeleição, e também pelo esforço de seus principais adversários: Aécio Neves, do PSDB, e pela aliança Eduardo Campos/Marina Silva, do PSB e REDE. A esquerda socialista brasileira precisa se apresentar neste debate e, ao fazê-lo, apontar uma alternativa de classe e socialista para os trabalhadores e a juventude do nosso país.
 
As eleições de 2014 vão acontecer após o terceiro mandato petista à frente do governo federal e também das manifestações que varreram o país no mês de junho passado e que mudaram substancialmente a situação política brasileira.
 
O desgaste do PT
Os governos do PT souberam usar a situação diferenciada do Brasil na economia (crescimento na era Lula e recuperação rápida na crise de 2008), para angariar apoio popular, ao mesmo tempo em que mantiveram e aprofundaram um modelo econômico que em nada ficou devendo àquele aplicado pelos governos tucanos de FHC.
 
No entanto, este apoio popular começou a sofrer uma forte erosão a partir das manifestações de junho. Milhões foram às ruas, com a juventude à frente, para protestar contra a situação dos transportes, da saúde pública, da educação, da corrupção e um longo etc. Este imenso processo de mobilização colocou o movimento de massas na ofensiva em nosso país, deixando na defensiva a classe dominante e seus governos. Avançou também a experiência dos trabalhadores com o governo petista em episódios como o do leilão de Libra, que avançou na privatização das reservas de petróleo do nosso país, e ainda com a utilização do Exército na repressão aos movimentos sociais.
 
Este quadro político eleva o grau de desgaste do governo petista e amplia o espaço e as possibilidades para a construção de alternativas à esquerda. Neste sentido, não deixa de ser uma referência o resultado eleitoral, muito positivo, que teve a esquerda socialista argentina nas eleições parlamentares ocorridas recentemente naquele país.
 
Precisamos apresentar uma alternativa que, ao mesmo tempo faça um balanço dos governos do PT numa perspectiva de classe e socialista, e também, por óbvio, faça a crítica das outras opções da burguesia que estão disputando a consciência da população, como é o caso de Aécio Neves e Eduardo Campos/Marina.
 
Marina Silva é uma opção?
Marina Silva buscou construir para si, durante todo este período em que tentou viabilizar o seu partido, a Rede Sustentabilidade, uma imagem de alternativa à chamada velha política, centrando sua proposta na defesa do meio ambiente e das demandas das ruas expressas nas mobilizações de junho. No entanto, o seu passado no governo do PT, quando apoiou a legalização dos transgênicos no Brasil e a Lei que autorizou o arrendamento de áreas da floresta amazônica às madeireiras internacionais, desmente claramente qualquer compromisso com o meio ambiente. E a apressada aliança com Eduardo Campos do PSB, para viabilizar uma candidatura no próximo ano, mostra que a defesa da “nova política” e das demandas de junho não passam de pura retórica.
 
Uma alternativa de classe e socialista para os trabalhadores
Todos nós sabemos que as eleições não são o terreno fundamental da luta que devemos travar contra a burguesia e o capitalismo. O espaço fundamental deste enfrentamento é a luta direta, a organização e a mobilização dos trabalhadores e jovens em defesa de seus direitos e interesses. Mas também sabemos que a disputa que acontecerá nas eleições do ano que vem será, sim, um momento importante desta luta. Estará em jogo a disputa pela consciência da nossa classe em torno aos diferentes projetos para o país. E disputar a consciência e o voto da nossa classe para uma alternativa de classe e socialista é obrigação da esquerda socialista brasileira.
 
É a partir desta compreensão que o PSTU entende ser necessária a apresentação de uma candidatura classista e socialista nas eleições do ano que vem. Uma candidatura que não, necessariamente, precisa ser do nosso partido. Pode ser a expressão de uma frente de esquerda envolvendo os partidos da esquerda socialista que estão na oposição ao governo Dilma. Nesta carta aberta ao PSOL, que prepara o seu Congresso nacional neste momento, e ao PCB, queremos explorar esta possibilidade. A de que a candidatura classista e socialista às eleições do ano que vem seja expressão de uma Frente de Esquerda envolvendo o PSTU, PSOL e PCB.
 
Uma candidatura desta natureza precisa obedecer a vários critérios. Deve levantar um programa de classe, anticapitalista, que aponte a transição necessária do sistema em que vivemos para uma sociedade socialista; precisa ser isenta de qualquer relação ou participação de setores da burguesia, sob pena de repetir a trajetória do PT; precisa ser independente politicamente da burguesia e, para isso, como é obvio, não pode receber dela nenhum tipo de financiamento; e precisa ser uma candidatura a serviço das lutas e do fortalecimento da organização dos trabalhadores e da juventude.
 
Adiantamos estas opiniões aqui porque nos preocupam processos e exemplos que estão em curso neste momento, com a participação do PSOL, e que apontam em sentido diverso. É o caso da situação na prefeitura de Macapá. A aliança feita para eleger o prefeito e, depois, para governar, envolvendo vários setores da burguesia, está levando a um governo que ao invés de se apoiar nas lutas dos trabalhadores para mudar a vida do povo, acaba se enfrentando com as lutas para defender a manutenção do status quo. É o que ocorreu na última greve dos professores naquela cidade. Tampouco podemos ignorar os episódios de financiamento por empresas de candidaturas deste partido nas eleições passadas.
 
A Frente de Esquerda que possa abrigar uma candidatura de classe e socialista precisa, antes de tudo, se colocar de acordo sobre os critérios políticos acima apresentados, ainda que não tenhamos acordo em relação aos elementos de balanço aqui expostos. E, superadas estas questões, precisa ser organizada de forma a respeitar os espaços de cada um dos partidos que venham a compô-la, seja no que diz respeito à candidatura a vice, na utilização do tempo de TV e mesmo nas definições de coligações nos estados.
 
Nós vivemos um momento ímpar em nosso país. As manifestações que ocorreram no Brasil a partir de junho mudaram o quadro político nacional e aproximaram o Brasil do cenário político mundial, marcado pelas lutas heroicas dos trabalhadores e jovens do Norte da África e Oriente Médio e pela resistência dos povos da Europa. A esquerda socialista brasileira está ante o desafio de, nesta nova situação, fazer avançar a luta e a organização dos trabalhadores e todos os setores explorados e oprimidos em nosso país. Só assim o recrudescimento das lutas do nosso povo nos levará a mudanças efetivas no país e na vida dos trabalhadores e jovens brasileiros. A disputa colocada nas eleições do ano que vem será um momento importante deste desafio. Precisamos nos colocar a altura dele.
 
Saudações socialistas,
 
Zé Maria, Presidente Nacional do PSTU